Fundo Senegal/Maïssa: realizadoras africanas comprometem-se a mudar a narrativa sobre as mulheres

Publicado em 08/07/2025 | La rédaction

Senegal

As realizadoras africanas de seis países da sub-região manifestaram a sua vontade de trabalhar para mudar a narrativa sobre as mulheres, a fim de as representar melhor no ecrã.

Assumiram este compromisso numa mesa redonda realizada na segunda-feira, em Dakar, sobre o tema "Transportar as nossas vozes, os desafios e o poder das narrativas das mulheres. Uma conversa sobre o lugar das mulheres na narração, na criação e na representação".

As participantes, todas elas beneficiárias do "Fundo Maïssa" criado pela Embaixada de França no Senegal, aproveitaram a ocasião para exprimir a sua vontade de fazer a diferença e de fazer sobressair os talentos das mulheres.

"É muito importante para esta geração de mulheres realizadoras e técnicas poder apresentar as nossas histórias", afirmou a realizadora e atriz senegalesa Mamyto Nakamura.

A narração de histórias por parte das mulheres vai para além do simples ato de contar histórias, afirma.

É um ato político, um ato de resistência e de compromisso", acrescenta Mamyto Nakamura, que acredita que "representar a mulher, a rapariga, a criança do sexo feminino, de uma forma diferente, é um modo de vida".É um ato político, um ato de resistência e de compromisso", acrescenta Mamyto Nakamura, que considera que "representar as mulheres e as raparigas senegalesas de forma diferente no ecrã" não é "um fardo, mas sim uma obrigação".

Ela denuncia uma certa imagem da mulher transmitida pelo ecrã e pela música no Senegal, apelando às mulheres para que se afirmem face a um sistema patriarcal que, na sua opinião, não favorece a sua realização pessoal.

Segundo a realizadora cabo-verdiana Samira Vera-Cruz, o objetivo não é fazer emergir a mulher moderna e deixar para trás a mulher tradicional, mas sim "mostrar tudo o que nos torna completas".

Começando pela sua última curta-metragem, dedicada a uma cientista do seu país, Samira Vera-Cruz considera que quis mostrar o percurso de uma mulher cientista e ambientalista que luta contra os incêndios florestais, ao mesmo tempo que destaca aqueles que não vão à escola na sua comunidade.

Para ela, quando se fala de Cabo Verde, "pensa-se muitas vezes em raparigas bonitas, em exotismo. Cabo Verde é muito mais do que isso", afirma, apelando a outras realizadoras e técnicas de cinema para trocarem informações e mudarem a narrativa.

Por seu lado, a realizadora e atriz Babetida Sadjo, da Guiné-Bissau, convidou as mulheres da indústria cinematográfica a integrarem os órgãos de decisão, lembrando que "as suas histórias são muitas vezes incompreendidas" dentro desses órgãos.

"Atrevam-se a ir ao fundo do vosso corpo, do vosso coração, para procurar e dar à luz as vossas histórias. Não hesitem em entrar na arena das decisões", disse, criticando as respostas frequentemente ouvidas durante as deliberações do júri para financiamento: Este projeto não vai resultar, esta história só interessa a um grupo, ou tem de ser universal, etc.".".

Atriz formada no Conservatório de Liège, em Bruxelas, Babetida Sadjo considera ter feito uma promessa de nunca participar na estereotipização das mulheres negras africanas, nem de desempenhar papéis que destruam o trabalho dos activistas.

Produtora e argumentista senegalesa da famosa série "Maitresse d'un homme marié" (Senhora de um homem casado), Kalista Sy considera que está a falar da sua vida rodeada de mulheres fortes.

"Cresci com mulheres fortes, por isso porque é que a sociedade me há-de dizer para retratar uma mulher que não pode dizer tal e tal coisa?

Kalista Sy, cuja perspetiva nos últimos anos tem sido a de contar histórias do ponto de vista das mulheres, beneficiou do Fundo Maïssa para o seu atelier "sala de escritores", onde dez pessoas receberam formação em escrita e realização de argumentos durante o último ano.

O mesmo se aplica à realizadora Angèle Diabang, cujo filme "Une si longue lettre", adaptado do famoso romance da escritora senegalesa Mariama Ba, beneficiou do mesmo fundo para a pós-produção.

O Fundo Maïssa, "para promover os talentos das mulheres africanas".

O Fundo Maïssa, criado a 8 de março de 2024, com quinze beneficiários, incluindo nove mulheres senegalesas em dois anos, reafirma assim o seu compromisso com as mulheres, segundo Christine Fages, embaixadora da França no Senegal.

"Através do Fundo Maïssa, a embaixada francesa reafirma o seu compromisso com as mulheres, mas também com a cooperação cultural, a promoção do talento africano e a circulação de histórias", afirmou.

Na cerimónia de entrega dos prémios, cada um dos quais recebeu um "certificado de mérito", a diplomata afirmou que o cinema e o filme são dois dos meios mais importantes de divulgação da cultura africana.A diplomata esclareceu que o cinema e os meios audiovisuais não são apenas instrumentos de entretenimento, porque "moldam as nossas representações e o nosso imaginário coletivo".

Por isso, sublinhou, "apoiar as mulheres nestes sectores significa apoiar uma sociedade mais justa, mais equitativa e mais inclusiva".

Fages elogiou o empenhamento da mecenas Aïssa Maïga, que encarna "a excelência artística e o poder das histórias das mulheres, que é o que precisamos neste mundo onde os direitos das mulheres estão em retrocesso, em retrocesso em todo o planeta".

Deste ponto de vista, considera que a presença em Dakar da realizadora do documentário "Walking on Water" (2021) confere a este programa "um forte significado simbólico e uma inspiração preciosa para todos nós".

O Fundo Maïssa funciona como uma incubadora de projectos de mulheres em seis países da África Ocidental: Cabo Verde, Gâmbia, Guiné, Guiné-Bissau, Mauritânia e Senegal.

O diretor de fotografia do Senegal, Germain Coly, saudou a iniciativa do Fonds Maïssa e apelou a que as vozes das mulheres fossem ouvidas para que pudessem chegar mais alto.

Fonte: aps.sn/


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