ENTREVISTA - LEANDRE SAHIRI UM INTELECTUAL VISIONÁRIO NO CENTRO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E CULTURAL DE GAGNOA
[Léandre SAHIRI, professor, escritor prolífico e fervoroso defensor da cultura, e a sua esposa Yvonne Djilet Badi SAHIRI, são os iniciadores de um projeto ambicioso e futurista para dotar a cidade de Gagnoa, na Costa do Marfim, de um grande "templo de todos os saberes e de todas as culturas": uma mediateca. Através deste projeto, o Sr. Sahiri oferece um espaço que promete impulsionar o desenvolvimento local, promovendo o acesso à cultura, à educação e à tecnologia. O projeto é mais do que a construção de um edifício, faz parte de um processo de transformação social e educativa. O seu livro recentemente publicado, intitulado "La future médiathèque de Gagnoa: Un espace d'épanouissement et un outil de développement au cœur de la région du Gôh pour tous les ages", relata esta fascinante aventura. Numa entrevista exclusiva, fala da sua carreira, dos seus compromissos literários e políticos, dos desafios deste projeto e do seu site www.asmgagnoa.com, que acaba de lançar oficialmente].
Jombelek: Pode falar-nos da sua carreira literária e das influências que moldaram a sua escrita?
Pr SAHIRI: Sou natural da Costa do Marfim. Sou doutorado em literatura pela Universidade de Sorbonne, em Paris, e sou professor-investigador, escritor, editor e crítico literário especializado em psicocrítica. Ensinei literatura francesa e francófona, bem como técnicas de expressão oral e escrita, em vários estabelecimentos e instituições em França e na Costa do Marfim. Fui investigador na Université du Québec à Montréal (UQAM) no Canadá. Como escritora, sou autora de vários artigos e livros. Atualmente, sou diretor da Mary Bro Foundation, uma ONG sediada em Inglaterra. Juntamente com a minha mulher, Yvonne Badi Sahiri, iniciei também o projeto de construção de uma mediateca em Gagnoa, na Costa do Marfim. A minha carreira literária é, acima de tudo, uma aventura humana. Cresci rodeado de histórias orais e contos de fadas, tesouros da tradição marfinense que despertaram em mim um profundo amor pelas histórias. Mais tarde, a descoberta das grandes obras da literatura francesa e internacional enriqueceu o meu mundo. Escritores como Ahmadou Kourouma, Chinua Achebe, Aimé Césaire, André Breton, Bernard Dadié, Voltaire, Émile Zola, Albert Camus, Frantz Fanon e Fernando Arrabal, entre outros, que combinam compromisso e universalidade, inspiraram-me grandes ideias e tiveram uma grande influência na minha escrita e na minha visão. No que diz respeito à minha escrita, diria que é sobretudo motivada por uma necessidade de testemunhar, de denunciar, de lutar contra a injustiça e os seus corolários com toda a minha energia. O meu sonho obsessivo é viver num mundo onde as pessoas não se comportem como lobos ou ogres com rosto humano.
Jombelek: O que o motivou a lançar um projeto tão ambicioso como uma mediateca em Gagnoa?
Pr SAHIRI: É um sonho antigo, nascido da minha observação das necessidades gritantes em termos de educação e de acesso à cultura na minha região natal, Gagnoa. De facto, como muitas outras cidades da Costa do Marfim, Gagnoa carece de espaços onde os jovens possam aprender, inspirar-se, criar e crescer intelectualmente. Acredito firmemente que a cultura e o conhecimento são os pilares do desenvolvimento. E esta mediateca é a minha forma de contribuir para este ideal e de dar uma resposta concreta e imediata às necessidades e expectativas da população de Gagnoa.
Jombelek: O seu livro recentemente publicado descreve a história deste projeto. Qual foi o maior desafio que enfrentou nesta aventura?
Pr SAHIRI: No início, o maior desafio foi, sem dúvida, convencer as pessoas de que este sonho era realizável. As pessoas hesitavam frequentemente quanto à dimensão de um projeto deste tipo, sobretudo num contexto em que as prioridades parecem ser outras. Não só tive de desenvolver uma visão clara, como também tive de mobilizar recursos humanos e financeiros, mantendo-me fiel aos meus princípios. E, hoje, muitas pessoas apoiam e reconhecem este projeto como uma iniciativa nobre e um objetivo louvável.
Jombelek: A mediateca é apresentada como uma "ferramenta de desenvolvimento". Que impacto concreto espera ter na comunidade local?
Pr SAHIRI: Espero que a mediateca ajude a criar uma geração de jovens curiosos, de mente aberta, criativos e preparados para construir um futuro melhor. Em termos concretos, esta mediateca dará acesso a recursos educativos, workshops de formação e espaços para investigação, reuniões e colaboração. Isto permitirá que Gagnoa se torne um centro fundamental de conhecimento e inovação.
Jombelek: Como tencionam integrar as novas tecnologias neste espaço cultural?
Pr SAHIRI: As novas tecnologias estarão no centro da mediateca. Pretendemos oferecer uma grande área multimédia, normalmente conhecida como "pavilhão digital", com computadores self-service, acesso à Internet e outras ferramentas digitais para investigação, documentação, formação e orientação profissional, e para a aprendizagem de competências como a programação, o design gráfico e outras. Queremos também digitalizar alguns dos nossos recursos para que possam ser acedidos em linha.
Jombelek: O vosso sítio Web recentemente lançado (asmgagnoa.com) desempenha um papel fundamental na sensibilização e no financiamento do projeto?
Prof. SAHIRI: Sem dúvida. O sítio é uma plataforma essencial para partilhar a história do projeto, mobilizar apoios e angariar fundos, para que possamos chegar a pessoas e organizações em áreas geográficas que não conseguimos ou não podemos alcançar. Permite-nos também interagir com os nossos parceiros e manter total transparência sobre a gestão dos fundos e o progresso do trabalho.
Jombelek: Que tipo de parcerias desenvolveram para tornar este sonho realidade?
Pr SAHIRI: Criámos parcerias com organizações locais e internacionais, instituições académicas e empresas. Estas colaborações são essenciais, uma vez que trazem diversos conhecimentos especializados, novas ideias e recursos essenciais para a concretização deste projeto.
Jombelek: Enquanto escritor, como é que a sua paixão pela literatura influencia a sua visão da educação e da cultura?
Pr SAHIRI: A literatura ensinou-me que cada livro é uma janela para o mundo e uma ferramenta para o desenvolvimento pessoal. Esta visão levou-me a acreditar que a educação e a cultura devem ser acessíveis a todos. Vejo a mediateca, em primeiro lugar, como uma extensão do meu empenhamento pessoal, da minha missão como ser humano e, em segundo lugar, como um contributo para a evolução da humanidade. Neste sentido, a mediateca deve ser vista como um "templo de todos os saberes e de todas as culturas", onde cada indivíduo pode aprender, informar-se, formar-se e desenvolver-se graças à riqueza das palavras, das ideias e das imagens.
Jombelek: Porque escolheram Gagnoa como ponto de partida para este projeto? Prevê iniciativas semelhantes noutras regiões?
Pr SAHIRI: Gagnoa é a minha cidade natal e tem um lugar especial no meu coração. Por isso, era natural começar aqui, em casa, onde a necessidade e a expetativa pareciam mais prementes do que noutros locais. Além disso, a região de Gagnoa oferece condições ideais e favoráveis para a viabilidade. Mas atenção! Sonho em ver este modelo replicado noutros locais da Costa do Marfim, e mesmo em África, porque a necessidade nesta área é a mesma.
Jombelek: Que conselhos daria a jovens escritores e empresários culturais que queiram criar projectos semelhantes?
Pr SAHIRI: Dir-lhes-ia para sonharem em grande e para acreditarem na sua visão, mesmo que pareça demasiado audaciosa ou impossível. A perseverança, o trabalho árduo e a capacidade de reunir pessoas à nossa volta são essenciais. E foi isso que eu fiz. É importante rodearmo-nos de mentores e nunca perder de vista o facto de que o impacto que queremos ter pode fazer toda a diferença. Falo de tudo isto, em pormenor, no meu recente livro intitulado "HOW TO ENTERPRISE AND SUCCESS IN ENTREPRENEURSHIP" (Ed. Mary Bro Foundation Publishing, Londres, 2024).
Jombelek: Como vê o papel das infra-estruturas culturais no combate às desigualdades sociais?
Pr SAHIRI: As infra-estruturas culturais são instrumentos de formação e de emancipação, tanto a nível individual como coletivo. São também um meio de luta contra as desigualdades sociais. Ajudam a democratizar o conhecimento, tornando-o acessível a todos, derrubando os muros da ignorância e da iliteracia. E, consequentemente, contribuem para elevar os níveis educativos e sócio-profissionais. Permitem que os indivíduos desenvolvam os seus talentos e acedam a oportunidades que de outra forma não teriam. Desta forma, reduzem as disparidades e dão a todos as mesmas hipóteses de sucesso. Contribuem para reduzir as taxas de abandono escolar e de desemprego na região e para sensibilizar para a importância da leitura, da educação e da cultura. Contribuem para a consciencialização de certas realidades e para a mudança de mentalidade das pessoas, por exemplo, colocando-se no extremo oposto da cultura da morte, ousando ser empreendedoras, etc.
Jombelek: Publicou vários livros. Em que é que este, sobre a mediateca, difere dos anteriores, em termos de conteúdo e de forma?
Pr SAHIRI: Este livro sobre a mediateca é simultaneamente uma história e um apelo à cultura como alavanca do desenvolvimento. Tem como cenário uma realidade concreta, a da mediateca, ao mesmo tempo que explora temas universais como os sonhos, a resiliência e a ação colectiva. Por um lado, não é um livro pessoal, porque foi escrito em colaboração com o meu amigo Patrice Houahu, um engenheiro informático que foi um dos primeiros membros do comité de direção do projeto. E, em segundo lugar, não é uma obra literária, nem um auxiliar de ensino, mas um documento de referência. É essa a diferença em relação às minhas obras anteriores, que podem ser encontradas na Amazon, www.asmgagnoa.com e no meu sítio Web pessoal www.sahiri.net.
Jombelek: Pensa que o financiamento participativo e solidário, através do seu sítio Web, pode ser uma solução para acelerar a construção?
Pr SAHIRI: Sim, o equity crowdfunding permitiu-nos recolher donativos e mobilizar fundos para iniciar as obras do edifício. Também nos permitiu criar uma comunidade empenhada em torno do projeto. Cada contribuinte tornou-se parte integrante desta aventura. Mas o financiamento participativo e solidário tem os seus limites e exige uma grande dose de comunicação. Daí o lançamento do nosso sítio Web para chegar a um público mais vasto na sensibilização e na procura de financiamento, de modo a podermos atrair mais contribuintes e acelerar os trabalhos de construção. Através deste sítio, esperamos conseguir chegar a pessoas, empresas e organizações em regiões geográficas que não conseguimos alcançar e que estariam interessadas em apoiar-nos. Para além disso, e tendo em conta que a maioria das compras hoje em dia é feita após uma fase de informação na Internet, decidimos oferecer uma loja online. O nosso sítio Web permitir-nos-á prospetar mais clientes, bem como vender muito mais, 7 dias por semana, 24 horas por dia, 365 dias por ano, sem qualquer intervenção da nossa parte.
Jombelek: Como avalia o apoio das autoridades locais e nacionais a esta iniciativa?
SAHIRI: O apoio das autoridades tem sido encorajador, embora sejam ainda necessários e esperados mais esforços. Precisamos de um compromisso mais forte, em termos de subsídios ou contribuições, especialmente em termos de financiamento e apoio técnico.
Jombelek: Que aspectos arquitectónicos ou artísticos tornarão a mediateca única?
Pr SAHIRI: Queremos que a mediateca seja uma mistura de inovação e tradição. A sua arquitetura será inspirada nas formas e valores locais, incorporando simultaneamente aspectos modernos e funcionais. Estamos também a planear incluir obras de intelectuais e artistas locais para ancorar este "templo" na identidade cultural da região, sem negligenciar a sua abertura ao mundo em geral. Do ponto de vista arquitetónico, queremos que a mediateca de Gagnoa seja uma joia, um património de prestígio, que será um fator de atração, de turismo, de dinamismo e de melhoria da imagem da região de Gagnoa.
Jombelek: Como será um dia típico para os utilizadores desta mediateca quando estiver a funcionar?
Pr SAHIRI: Um dia típico pode começar com workshops para jovens, seguidos de sessões de leitura ou de acesso à Internet para pesquisa. Palestras, projecções de filmes e exposições pontuarão o dia. Vai ser um espaço vivo e dinâmico, com uma vasta gama de eventos e actividades.
Jombelek: Como é que os seus leitores e apoiantes podem contribuir, para além do financiamento, para o sucesso deste projeto?
Pr SAHIRI: Todas as pessoas de boa vontade podem contribuir, partilhando o projeto com as pessoas que as rodeiam, contribuindo com ideias, ou mesmo oferecendo donativos materiais, como livros ou equipamento. Cada gesto conta e ajuda a construir algo duradouro. De qualquer modo, precisamos atualmente de materiais de construção (cimento, areia, cascalho, ferro, tábuas, vigas, etc.), bem como de fundos para pagar aos trabalhadores no local.
Jombelek: Por fim, quais são as suas ambições futuras para a promoção da cultura e da leitura na Costa do Marfim?
Pr SAHIRI: A minha ambição é continuar a criar espaços e oportunidades para que a cultura e a leitura se tornem hábitos enraizados nas nossas comunidades. Sonho com um país onde todas as crianças, independentemente da sua origem, possam ter acesso ao conhecimento e à criatividade através dos livros e das ferramentas essenciais que lhes são postas à disposição, para o seu desenvolvimento pessoal e para transformar as nossas sociedades.
Jombelek : Quais são as suas últimas palavras?
Pr SAHIRI: Antes de mais, gostaria de prestar uma merecida homenagem à minha mulher, Yvonne Djilet Badi SAHIRI. Ela iniciou o projeto da futura mediateca de Gagnoa, mas também, e sobretudo, apoia o projeto de forma eficaz, infalível, por todos os meios, sem poupar esforços nem despesas. Por isso, merece a nossa estima e consideração. Aproveito esta oportunidade para agradecer a todos os que já fizeram donativos e para lançar um apelo a todas as pessoas de boa vontade, bem como para agradecer a vossa colaboração, através desta entrevista que, espero, permitirá ao grande público conhecer um pouco melhor este projeto. É muito apreciada. Muito obrigado.
Esta entrevista revela um homem apaixonado, determinado a deixar um legado cultural para as gerações futuras. Através do seu trabalho, Léandre SAHIRI prova que a literatura e o envolvimento da comunidade podem andar de mãos dadas para construir pontes para um futuro melhor. Para seguir o seu trabalho e contribuir para este projeto transformador, visite o seu sítio Web: www.asmgagnoa.com.
Entrevista com Johanne Elie Ernest Ngo Mbelek, também conhecido por Jombelek.
Paris, 2 de dezembro de 2024.