Johanna Hawari Bourjeily: a promoção de uma cultura de mediação no Líbano não está isenta de desafios

Publicado em 10/01/2025 | La rédaction

Líbano

A mediação desempenha um papel crucial na resolução de conflitos, proporcionando um espaço de diálogo e de compreensão que favorece a paz e a reconciliação. Num mundo onde as tensões sociais e políticas são omnipresentes, esta ferramenta torna-se indispensável para construir e restabelecer laços. É neste contexto que Johanna Hawari Bourjeily, fundadora e diretora do Centro de Mediação Profissional da Universidade de Saint-Joseph em Beirute, um parceiro de longa data da AUF, está apaixonadamente empenhada. Ela partilha a sua experiência e a sua visão da mediação e ilustra como a mediação pode transformar vidas e reforçar o tecido social num país que procura a paz.

Entrevista com Johanna Hawari Bourjeily, que é também Presidente de "Médiateurs Sans Frontières Liban" e membro da Comissão de Mediação da Conferência Regional de Reitores da AUF Médio Oriente.

- Qual é o maior desafio que enfrenta atualmente no domínio da mediação e como é que o Centro de Mediação Profissional lhe dá resposta?
Antes de mais, gostaria de definir a mediação, que é um processo alternativo de resolução de litígios (ADR) que envolve um mediador, um terceiro neutro e imparcial. O papel do mediador consiste em ajudar as partes em desacordo a encontrar uma solução satisfatória para as suas divergências. Neste sentido, este processo rápido, confidencial, informal e pouco dispendioso distingue-se dos processos judiciais e da arbitragem.
A cultura da mediação é um verdadeiro instrumento de pacificação e de reconciliação, mas a sua promoção no mosaico cultural e comunitário que é o Líbano implica muitos desafios, agravados pelas crises económicas, sociais e políticas, e isto num contexto de guerras regionais.
Para responder a estes desafios a vários níveis, o Centro de Mediação Profissional (CPM) da Universidade de Saint-Joseph em Beirute adapta e reajusta regularmente as suas intervenções e acções à realidade no terreno.
Por exemplo, em resposta à crise económica, o CPM organiza sessões gratuitas de sensibilização e formação em mediação para membros de associações e ONG. Do mesmo modo, mediadores profissionais trabalham numa base voluntária neste tipo de instituições para ajudar as pessoas desfavorecidas a resolver os seus problemas.
Além disso, durante a guerra que o país acaba de atravessar, o CPM organizou ateliers de escuta e de mediação em certos centros de acolhimento de pessoas deslocadas. O objetivo destes workshops era prevenir e gerir as tensões, preservando assim a convivência social.


- Como avalia a parceria CPM - AUF? A parceria entre o CPM e a AUF (direção regional do Médio Oriente) começou em 2016. Concretiza-se através da organização de eventos (conferências, concursos de mediação) e da realização de workshops de sensibilização e de formação em mediação e comunicação positiva nas universidades pertencentes à rede AUF no Líbano, na Jordânia, no Egito, no Sudão, no Iraque, na Síria e na Palestina.

Estas formações destinam-se aos estudantes, ao pessoal administrativo e ao pessoal docente das universidades parceiras e têm por objetivo transmitir conhecimentos, técnicas e ferramentas, mas também formar as pessoas sobre o seu comportamento. Por outras palavras, apoiar os participantes na aquisição de uma postura assertiva e benevolente, reforçando as suas competências emocionais, comunicacionais e relacionais, permitindo-lhes assim desempenhar um papel na construção de sociedades civis pacíficas a partir dos campus.
A parceria entre o CPM e a AUF é sólida e duradoura porque assenta em valores humanistas comuns, nomeadamente o respeito pela cultura das nossas respectivas instituições, a solidariedade, a flexibilidade e a confiança.
O que também une a CPM e a AUF é o desejo de promover os princípios da Francofonia, como o diálogo entre culturas, a educação para a paz e a igualdade de género.

- Pode partilhar uma história marcante em que a mediação tenha feito uma diferença real para uma pessoa ou uma comunidade?
No rescaldo da guerra de julho de 2006, o CPM, em colaboração com a Association Médiateurs sans Frontières e o Movimento Social Libanês, criou um projeto que reuniu 75 jovens com idades compreendidas entre os 14 e os 20 anos, de diferentes credos e regiões.
Lembro-me, em particular, de dois grupos de jovens de aldeias vizinhas do Sul do Líbano que se recusavam a falar uns com os outros ou a encontrar-se devido às suas diferenças políticas e comunitárias.
O nosso trabalho como mediadores começou por criar espaços neutros e confidenciais de diálogo e de escuta, para os encorajar a Numa segunda fase, ajudámo-los a aproximarem-se uns dos outros sem julgamentos ou preconceitos.
No final deste projeto, estes jovens, que se tinham demonizado mutuamente sem sequer se conhecerem, acabaram por formar uma bela amizade baseada na compreensão mútua, no diálogo construtivo e no respeito pela diferença.
Esta tomada de consciência dos seus verdadeiros desejos, distintos dos das suas famílias e comunidades, deu-lhes auto-confiança e, consequentemente, permitiu-lhes abrirem-se aos outros. A partir daí, começaram a encontrar comportamentos comuns e aspirações semelhantes, como a pertença ao mesmo país e à mesma nação.


- Que conselhos daria a alguém que quisesse enveredar por uma carreira na mediação? Se é verdade que a mediação existe informal e tradicionalmente há séculos, institucionalizou-se por volta de 1970 nos países ocidentais. Progressivamente, tornou-se um processo institucional regido por regulamentos e por um código de ética e de conduta profissional. No Líbano, o CPM é o primeiro centro de mediação que criou um programa de formação profissional para formar mediadores competentes para a prática da mediação em diferentes domínios: social, familiar, comercial, intercultural, comunitário, etc. Por conseguinte, o conselho que eu daria a qualquer pessoa que queira tornar-se mediador é, evidentemente, seguir um curso com diploma. Durante esta formação, adquirem conhecimentos, ferramentas e técnicas como a escuta ativa e empática, a comunicação não violenta, a facilitação, etc., bem como competências interpessoais de qualidade para si e para os outros. Porque não pode haver paz exterior sem paz interior. Neste sentido, vejo a mediação como uma missão e o mediador como um pacificador que trabalha com as pessoas e para as pessoas. E se é verdade que são precisos heróis para fazer a guerra, eu gostaria de dizer que são precisos seres humanos para fazer a paz.

Fonte: www.auf.org/


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